W Series: opiniões entre portuguesas do volante dividem-se

Nova competição exclusiva para mulheres merece comentários opostos de Elisabete Jacinto e Lígia Albuquerque
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Elisabete Jacinto e Lígia Albuquerque
Elisabete Jacinto e Lígia Albuquerque

 A W Series, nova competição de monolugares exclusiva para mulheres que arranca em 2019, pretende facilitar a entrada do sexo feminino na Fórmula 1. O novo campeonato foi apresentado esta semana e está longe de ser um projeto consensual entre as principais figuras do automobilismo feminino, um pouco por todo o mundo.

Em Portugal, o Autoportal foi conhecer a opinião de duas pilotos nacionais com provas dadas e acabou por constatar que apesar de a W Series ter como objectivo dar às mulheres uma oportunidade de mostrar o seu valor no mundo da competição automóvel, a ideia, tal como lá fora, divide opiniões.

Lígia Albuquerque, considerada como uma das mais rápidas portuguesas de sempre, notabilizou-se nos ralis, especialmente na década de 90 com grandes exibições no então Troféu Seat Ibiza, e mais tarde no todo o terreno, A sua opinião é a de que o aparecimento da W Series dificilmente pode contribuir para o desenvolvimento das mulheres no automobilismo.

“Penso que as mulheres não precisam de competições apenas para elas. São coisas engraçadas e lembro-me de participar num rali dedicado apenas a senhoras, mas não me parece que um competição exclusiva possa ajudar a chegar a um patamar tão alto como a Fórmula 1. O importante é mostrar a vontade e o valor que nos leva destacar numa corrida normal”, afirmou a conhecida piloto portuguesa.

Lígia Albuquerque prepara-se para regressar à competição no final de novembro nas 24 horas de Fronteira e assinala que correr com os homens tem sido desde sempre uma vantagem para as mulheres: “Quando aparecíamos e tínhamos qualidade, sobressaíamos e acabávamos por ter uma maior visibilidade. Estou certa de que esta nova competição vai chamar mais gente, mas não acredito que permita contrariar a realidade existente de que quem tem dinheiro tem bons carros e boas oportunidades nas equipas."3 Acho que as mulheres não precisam de uma categoria só para elas. Eles também não tem provas apenas para eles”, reforçou Lígia Albuquerque

Opinião diferente é partilhada por Elisabete Jacinto. A piloto portuguesa de todo-terreno, com várias participações do ”Dakar” e com duas vitórias no Rali de Marrocos na categoria de camiões, é uma defensora deste tipo de provas.

Elisabete Jacinto não precisou de corridas exclusivas para mulheres para revelar todo o seu potencial e deixar muitos homens atrás dela nas corridas em que participa, mas deixa claro que é a favor da W Series e de campeonatos destes: “É uma boa opção até porque, no geral, homens e mulheres são convencidos desde sempre que o desporto é para homens e, nomeadamente, o desporto motorizado e, por isso, existe uma carência muito grande de eventos destinados exclusivamente às mulheres”.

Para Elisabete Jacinto, essa carência de competições no feminino leva as jovens a afastarem-se do desporto automóvel: “O importante é mostrar que este tipo de competição não é um exclusivo dos homens, mas que também está aberto às mulheres. Por isso, esta é uma competição importante já que vai dar um empurrão importante, como aconteceu com o futebol feminino”.

Lembrando que a diferença entre sexos só existe na cabeça das pessoas, Elisabete Jacinto recordou como foi difícil impor-se num mundo só de homens. “A minha abordagem foi sempre ignorar e não ligar, mas tenho a certeza de que se fosse homem e com os resultados que já alcancei tinha tido uma visibilidade ainda maior”.

A piloto portuguesa habituada à dureza das provas de todo o terreno recordou mesmo um episódio: “Tinha acabado de conquistar a vitória na categoria de camiões no Rali de Marrocos e um jornalista marroquino perguntou ao meu marido se não temia que a minha vitória na categoria desvalorizasse a modalidade." "É por isso que defendo que este tipo de provas são um empurrão importante para trazer mais mulheres para o desporto automóvel e fazem com que outras parem para pensar que é possível”.

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