A NextLap criou um programa de inovação dedicado à economia circular. Empreendedores e grandes empresas criam calçado português feito com materiais derivados da reciclagem de pneus em fim de vida, ideia que surge de uma das maiores preocupações para o meio ambiente e para a saúde pública a nível mundial, o desperdício de pneus usados.
O programa NextLap é gerido pela consultora de inovação colaborativa Beta-i e promovido pela entidade gestora portuguesa Valorpneu e a Genan, recicladora multinacional de origem dinamarquesa.
Começaram a ser desenvolvidos seis projetos focados em dar uma segunda vida a materiais derivados da reciclagem de pneus em fim de vida e promoção de um mercado mais circular, projetos estes concebidos por nove empresas e cinco empreendedores portugueses.
A Decathlon, empresa de desporto francesa, iniciou em conjunto com os parceiros de inovação Rubberlink e Tintex dois destes projetos-piloto direcionados para a criação de protótipos de calçado fabricado com materiais de pneus descartados.
A NextLap é um programa no qual a Beta-i aplica a sua metodologia colaborativa para o desenvolvimento de novos projetos entre empresas, startups e parceiros de inovação com o objetivo de acelerar a transformação de modelos de negócio, produtos e serviços. O programa contou com o envolvimento da Valorpneu, Genan, Decathlon Portugal, das Infraestruturas de Portugal, das empresas de construção Grupo Opway e Pragosa, do Cluster Automóvel MOBINOV, da empresa de reciclagem Extruplás, da empresa de calçado Procalçado e da marca de sportswear Houdini.
Parceiros e empreendedores estiveram nove meses a desenvolver a criação de projetos-piloto para tratar e reutilizar os três componentes derivados de pneus em fim de vida, entre eles o granulado de borracha, fibras têxteis e aço. Inovadores da marca portuguesa Rubberlink, criaram uma solução de borracha de pneu desvulcanizada que permitiu à Decathlon Portugal produzir um sapato com uma sola de borracha 100% reciclada. Segundo dados da Genan, para uma tonelada de pneu reciclado são produzidas menos de 700kg de emissões de carbono, comparando com a utilização de matérias primas virgens para produzir produtos semelhantes.
A Tintex reaproveitou o pó de borracha derivado de pneus para criar a gáspea (parte de cima à frente do calçado), neste caso de ginástica, produzido através da utilização dos materiais fornecidos pela recicladora Genan, algo que até agora não tinha sido idealizado e que será testado pelo maior retalhista de produtos desportivos do país.
A Tintex foi também responsável pela solução a partir do aproveitamento do têxtil derivado do pneu, que permitirá reutilizar um material de poucas aplicações económicas, quando comparado com matérias primas standard feitas com couro, levando assim à redução do consumo total de energia e água na sua produção.
A empresa Infraestruturas de Portugal em colaboração com os inovadores Pavnext e o parceiro Pragos, poderá vir a apoiar a implementação de uma tecnologia para ser colocada nas estradas, coberta com borracha proveniente de pneus reciclados com o objetivo de fazer com que os veículos desacelerem a velocidade quando entram nas localidades. A empresa pública tem interesse em continuar a apoiar a Runcobar em conjunto com a Opway, na possibilidade de implementar barreiras acústicas também feitas de borracha derivada de pneu reciclado, nas linhas ferroviárias, com a consequência de uma diminuição de 30% das emissões de carbono.
Em Portugal são geradas, anualmente, uma média de 80 mil toneladas de pneus em fim de vida, em que 60% são encaminhadas para reciclagem e os restantes 40% para produção energética.